terça-feira, 30 de junho de 2009

I'll get you in the end

Estúpido, ridículo, cruel, fraco, covarde e medroso.
Sim, medroso! Tem medo de que alguém te mostre o que ele finge mostrar. Tem medo que o mundo entre na tua cabeça e que lá não mais haja espaço para ele. Tem medo do vento, tem medo da noite. Tem medo de mim?
Egoísta, estúpido, monstro do dia e do medo. Tem medo, o desgraçado! Tem medo porque não sabe que devia era ter mais medo. Medo dele mesmo - da sua estupidez inata.

Pois eu não temo. A alma acorrentada busca a liberdade. E tu a buscarás. Ah, sim, um dia a buscarás. Pela noite que cai sobre o dia, eu juro, tu serás livre.

Um coração preso não é um coração pleno, não é um amante feliz. E tu não o serás. E ele não o será. E serão incompletos os dois. E ele será miserável por sua fraqueza e por seu medo injustificável. E tu serás cúmplice da covardia dele. Mas tu buscarás a saída, tu buscarás a liberdade. Eu acredito em ti. Tu queres o mundo. Tu mereces o mundo. O mundo é teu, é meu, é de quem o quer - e tem a coragem de o perseguir.
Deixa-o sozinho no seu mar de nada. NADA. Não é nada, não é nada, NADA - ele não é nada nem ninguém sem ti, tola. Entende, em nome da vida que começa a cada dia, que o que vos une não é mais paixão, não é mais calor. O que vos une, doce anjo perdido, é o hábito de estarem unidos. O que vos une é o medo - do qual tu deves escapar.
FOGE!
Foge dessa vida que te oferecem.
Não, não vem comigo, não vem com ninguém. Vai contigo, pois tu és a dona da tua vida, a dona das tuas ações. Eu seria prisão, tanto quanto qualquer um, se não soubesses o que queres e o que tens; o que pedes e o que recebes.
Amanhã te arrependerás - e sabes disso. Mas não deixas de fazer tudo que tu sabes ser errado. E eu entendo - eu também já o fiz. E por isso posso dizer: te arrependerás.
FOGE
Foge tu contigo, foge tu de ti, foge tu de todos que só querem te ter. Foge do passado, foge do presente. Foge dessa vida que te oferecem. Foge e terás as opções que sempre quiseste.
Encontra-te, descobre quem tu és. Serás mais forte, serás mais tu.
E tu é tudo que tu tens que te tornar.
E tu és a conclusão perfeita de tudo que o mundo te pede que sejas.
E tu és tudo com que eu sonho, se é que eu ainda posso sonhar contigo - e posso?
Posso sonhar com as coisas com que sonho?
Não podes me impedir de querer, de sonhar. Pois é contigo que vou sonhar. Sonhar com teus olhos, com teus sorrisos, com tua voz e tuas palavras. Sonhar que tu estás comigo. Sonhar que tu sonhas comigo. Sonhar que tu acordas do meu lado. Até o dia em que acordar do teu lado.

Eu sou noite, eu sou vento, eu sou chuva. Eu sou ar, eu sou terra - eu sou vivo e eu quero viver.
Que és tu? Que queres tu?

Pela vida que vives, jura, tu serás feliz com quem for e do modo que for.
Pela vida que vives, jura, tu serás livre. De mim, de todos.
Pela vida que vives, jura, tu serás tu, mesmo que para isso me consuma eu.
Pelo ar que respiro, juro, eu estarei vivo para ti como sempre estive, se assim quiseres.
Pelo ar que respiro, juro, eu estarei aqui, de mãos e pés livres, para ser livre contigo.
Pelo ar que respiro, eu juro - eu te quero, mas te quero porque te quero.

(eu jamais te perderia assim)

sábado, 6 de junho de 2009

autobiografia de outrem

Era nuvem.
Nuvem carregada, escura e densa. Era nuvem insistente de chuva que não chovia.
Nuvem da espera que não termina. Nuvem etérea, que não se deixava cair. Era pesada e negativa. Nuvem negra que, impondo sua presença, se tornava invisível. Era sim triste e frustrada, parada e gélida. Era incompleta e abandonada - e assim se via e se martirizava.
Deixava-se dominar por toda sorte de maus pensamentos, más esperanças e sonhos-dos-outros - que nunca foram seus, mas que estavam lá nas suas aspirações. De sonhos-dos-outros já bastavam aqueles dos quais não escaparia. Queria sonhos seus.
Sabia o que queria, essa nuvem. Era uma nuvem deveras pensativa. Absorta nos seus desejos secretos, encolhia-se em seu mundinho e, assim, só se tornava maior, mais escura e mais densa.
E era assim a vida da nuvenzinha. Crescia por fora, mas não por dentro.
Angustiava-se com o tempo, mas não tentava moldá-lo. Angustiava-se com as pessoas. Angustiava-se com sua angústia e consigo. Não se suportava, a pobre nuvenzinha. Achava-se ridícula, e se pode questionar até que ponto estava errada em suas idéias, pois o mundo - o seu mundo - lhe dizia "não sonha, nuvenzinha, que os sonhos são feitos de idéias, e idéias são feitas de açúcar, que molha e vira nada". E como insistia em depositar nos outros a sua inocente confiança! Como fora traída. Como fora ridicularizada. Como fora pisoteada, xingada e humilhada - sempre pelas costas. Odiava-se pela sua inocência; por ouvir os outros. Queria apegar-se a seus instintos e a sua sabedoria, que crescia junto com a desilusão.

E ninguém entendia a pobre nuvem. Ela pairava sobre os outros, observando e aprendendo. Baforando impacientemente, ela se surpreendia com as pessoas e suas ridículas máscaras. Surpreendia-se com a quantidade de pessoas em uma só pessoa. Irritava-se com a falsidade, a prepotência e o egoísmo - os quais lhe atribuíam, talvez tentando confundir-lhe. Jovem e cheia de vazios, a nuvem assumia pouco relutantemente os papéis mundanos que lhe davam.

Mas a nuvem sabia o que queria. Ou talvez soubesse o que não queria. A nuvem não queria ser gente. A nuvem não queria ser bicho. A nuvem não queria ser história. Nem historiador, nem contador. Não queria virar nada. Não queria ter nada. A nuvem queria fazer aquilo para que havia nascido. Ela queria completar sua função no mundo no qual fora colocada. A nuvem, meu paciente amigo, queria fazer o que as nuvens foram feitas para fazer! E ela o fez.

Hoje comecei a chover.