quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Se a árvore não cai

Depois de quarenta minutos, me senti satisfeito e fui embora, com passos longo e lentos.


Uma senhora correu atrás de mim, intrigada. Sem fôlego, disse:
- Mas moço, tu não tá esperando o ônibus?

Sorri constrangido, como se tivesse sido descoberto em meu fetiche. Fingindo seriedade, tentei explicar:
- Não, na verdade eu quase nunca espero o ônibus...

careta

Tudo começou com a constatação de que o melhor amigo dele tinha uma tatuagem de código de barras no pulso esquerdo.

Que tipo de pai ele seria para os meus filhos? Certamente não o tipo que perde uma noite de sono tentando explicar equações de segundo grau, lições de ecologia ou as regras da vírgula. Seria ele um pretendente respeitoso, um namorado fiel e marido carinhoso? Difícil dizer.

Ele até tinha um sorriso convidativo, um jeito divertido e bastante leve de conversar sobre as coisas, mas... Não sei. Não sei se era a imagem do meu pai decepcionado, ou da minha ginecologista preocupada - algo me afastava. Talvez o desodorante exagerado.

E se ele me convidasse para ir ao apartamento dele? E se eu aceitasse, e acontecesse algo - como seria? Ele me traria café da manhã? Ele se resignaria com o fato de que eu só como peito de peru defumado, grãos e leite desnatado? Ele chamaria um táxi? Ele pagaria?

Mas tudo se tornou muito mais hipotético e menos importante quando eu vi que ele mesmo tinha uma tatuagem de estrela no cotovelo.
- Não, esse eu não vi.
- Mas é o melhor dele!