domingo, 31 de maio de 2009

Sin-ceridade

O que é sincero? O que é ser honesto com alguém, ou mesmo consigo? Enganar os outros quando nos enganamos também - isso é ser desonesto?
Por que estamos sempre inseguros e incertos sobre o presente e o futuro, nos abraçando ao passado como certeza e segurança? O desconhecido e o encoberto são assim tão assustadores? Pois são. E o passado é assim tão reconfortante? A mornidão do que já passou nos traz, de fato, algum conforto? Ou é uma armadilha da nossa mente e da nossa relação, nos levando a viver de nostalgia requentada?

O medo do desconhecido é uma prisão a certezas frias e, paradoxalmente, incertas. Enganamo-nos com nossas memórias. O belo é mais belo depois de um dia. O bom se torna ótimo, e o ótimo se torna perfeito. O mau se torna sustentável, o absurdo se torna tolerável - e continuamos nos enganando e nos prendendo a realidades inverdadeiras.
Um novo CD, um prato diferente, um novo amigo, um beijo mais doce e misterioso. São tomados como tentações a que se deve resistir. A certeza do momento anterior é maior que a curiosidade de agora, e é muito maior que a liberdade que julgamos possuir. Não há relação humana que não envolva supressão e desapego a liberdade. E é aí que somos desonestos. Mentirosos. Enganamo-nos e pensamos que não. Confundimo-nos e não percebemos.
Enganamos então os outros. Com nossas falsas certezas, forçamos que tenham também certezas tão firmes quanto as nossas. Exigimos que sejam nossos cúmplices, e aí somos todos tremendamente desonestos. Somos cruéis e cegos. Ou somos vítimas da desonestidade das nossas relações?