terça-feira, 29 de setembro de 2009

1040 d.C.

sou um conde,
subo um monte,
vivo a andar,
sem jamais chegar,
a qualquer espécie de lugar.

ando a pé, ou ando montado,
fumo cigarros, charutos ou cordas,
fumo meus sonhos. sem filtro. até a ponta.
ando sozinho, ou juntinho,
de pé ou sentado.
como passas, frutas e tortas,
como minha vida. sem garfo. até a semente.
como eu mesmo, como quem sou,
autótrofo assim,
hierarquicamente,
pois é só minha mente
que come o que resta de mim.

luto com escudos e espadas e calças,
luto com escudos e espadas falsas,
porque luto a minha luta no luto de quem luta consigo
travo uma peleia contra o dono de mim, que acontece de ser eu mesmo
que vivo a esmo
sonhando quem sabe um dia encontrar-me comigo
e viver uma história,
dessas bem bonitas,
cheia de vitórias,
de véus e de fitas,

perdoe-me se rimas ricas
não são meu forte,
eu busco novas dicas,
as busco de sul a norte,
mas não há quem me ensine,
quem me mostre o que rime...


me despeço do que chamo, clamo, tramo, grito e exclamo
eu mesmo, eu me amo.

PRO INFERNO

pensei em escrever algo, aí primeiro pensei "não, não vai sair nada bom. e como eu não tenho filtro, vou publicar um troço ruim e sem pé nem cabeça".

mas depois fui me acostumando à idéia, e logo cheguei à conclusão que a minha falta de filtro talvez seja apenas uma condição inerente ao fato de que tudo que eu escrevo é sincero e é visceral. Tudo tem meu cheiro, meu sangue e minha mão. Tudo que eu faço sou eu escrito, desenhado, cantado. Tudo que é eu faço é ruim, mesquinho, egoísta, estúpido, impulsivo e repugnante, como eu.
Tudo que eu faço, eu faço sem pensar, sem olhar para os lados, sem criticar e sem repensar. O que e eu fiz está feito e eu não me arrependo - porque eu sou tremendamente orgulhoso, o que de certa forma me torna ainda mais repugnante.

Pro inferno com tudo isso, eu sou quem eu sou e hei de ser aceito por quem quer que seja. E por "aceito" subentenda-se todo o resto.
Pro inferno com a modéstia. Eu sou genial e vou morrer em um caixão dourado, pago por outrem, já que morrerei pobre e infeliz. Amargurado pela desimportância conferida aos meus dizeres. Desgraçado pela miséria moral do meu mundo. Enojado pelos pedaços que escorrem do teto, remanescentes do pouco que sobrou do idealismo, da pureza e da liberdade. Caem como carne putrefeita aos meus pés.

Pro inferno com a vida e a morte - eu estou acima disso.
Decido que serei o que nasci para ser, e pro inferno quem duvida - são todos doentes e perecerão à primeira chuva de iluminação conferida pela sabedoria, pela experiência e pelas palavras (que são, afinal, as mais puras porém deturpadas ferramentas da humanidade).

Não saiu nada bom, mas eu vou publicar esse troço ruim sem pé nem cabeça pelo simples fato de eu não ter filtro e de eu gostar de dizer "pro inferno com...".
Pro inferno com o filtro e o inferno.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

do temer

por que hei de me prender à realidade,
se o que sonho é tão verdade
e o que vejo nunca é novidade...?
(eu tenho medo é de saber
- de mim e de ti)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

do que eu sei.

(Instruções básicas:
Leia em voz alta, e em ritmo acelerado)



Glórias ao trabalho, aos horários
[e também à servidão];
Glórias aos senhores, aos salários
[e também à industrialização];
Salve, salve os que foram empregados
[ - e também os que serão]

Salve férias na praia
(com gente da sua laia),
Salve ônibus lotados
(salve, logo, os tarados),
Salve o calor, salve o suor;
Salve o calor, que só fica pior:
- Glórias ao ar-condicionado!
(muito embora ele fique
[na sala logo ao lado])

Salve os pais e seus problemas,
Salve os filhos e seus poemas,
Sobre o trabalho dos pais;
Embora saibam muito mais
De sua arte de ter calma,
E da certeza de entender
- que só o amor eleva a alma.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

flaco & fraco

se me atirar
e me soltar,
sem comer
nem beber;
não respirar
nem acordar;
me desprender
e me perder;
e me prever
e me perder,
e então morrer.
(porque eu vou morrer)

se isso acontecer,
tu vais ver
(e é fácil perceber)
e me dizer
que se importar
não é se rebaixar,
não é nem melhorar,
e que amar
não é deixar de ser,
não é deixar de querer,
é deixar de esperar
- e começar a se doar.

Fool me, would'ya?

Love me, love me, say that you love me;
Fool me, fool me, go on and fool me;
Love me, love me, pretend that you love me;
Lead me, lead me, just say that you need me...
I can't care 'bout anything but you.

hipócrita

Que direito tenho eu sobre teu corpo, tua mente e teu tempo? Quem sou eu para habitar cada uma dessas esferas? Quem eu acho que sou para pensar que mereço a tua atenção e o teu amor - tanto quanto eu quero?

E por que me perguntar isso não faz com que eu deixe de me importar? Volta, por favor.
e não diga que não há dia em que você não queira deitar e chorar.