segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Afinal,
acho que o que eu chamo de eco
é o que chamam por aí de saudade
(só que um pouco mais)

esquecer

Tuas fotos na minha mesa.
Tuas roupas no meu armário.
Teu cheiro no meu travesseiro.
Tuas músicas na minha cabeça.
Tua foto na minha carteira.
Teu sorriso, tua voz, tua imagem na minha mente.

Será coincidência...
ou eu não quero te esquecer?

domingo, 27 de fevereiro de 2011

E hoje de noite,
Numa pista de dança escura e inebriante,
Via de relance teu rosto numa dúzia de corpos diferentes.
Mas nem assim é o bastante!

Dançavam tolamente;
Não chamavam meu abraço.
Sorriam com todos os dentes,
Mas não atraíam meu beijo.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

chuva

E depois de me despedir dela
Chorei minhas lágrimas.
Todas.

Como eu não tinha lágrimas suficientes,
Começou a chover...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

se-chegar ou quando-chegar

O dia que eu não fizer mais piadas sem graça;
O dia que eu não disser mais teu nome sem motivo - só pra deixar ele ecoando no ar;
O dia que eu não rir sozinho, olhando pro teu rosto e te deixando sem entender nada...

Se esse dia chegar, pode acreditar,
eu não gosto mais de ti.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

cor de rosa

Entro debaixo do chuveiro.
A água fria molha meu cabelo; me arrepia e desperta para a realidade: ela foi embora.
Olho para meus pés e, logo à frente deles, o ralo. Ali, presos, fios de cabelo rosa. Tremem e sacodem nervosamente com a força da água, mas não caem ralo abaixo.

Sorrio para eles. "Intrometidos" penso, irônico. Embora tenham sido convidados e incentivados a estar ali, aquele fios compridos e coloridos são intrusos naquele mundo tão cinzento e masculino.
São, de certa forma, um lembrete de quem esteve ali. Lembram-me de que serão, eles mesmos, substituídos por outros fios - lembram-me de que ela vai voltar. E ela vai voltar, eu sei.

No entanto, mais intrometida ainda, uma sombra cruza minha mente. Um pensamento frio e infeliz: chegará o dia em que os fios de cabelo rosa estarão ali, esperando cair ralo abaixo, esperando que a água os desbote. Chegará o dia em que não serão substituídos. Chegará o dia em que a própria dona daqueles fios será apenas uma lembrança cor-de-rosa, presa no ralo do meu chuveiro...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

poemas sem título

Poemas que não têm título
São como sentimentos que não têm nome;
São como amores inclassificáveis.

São puros, incontidos.
Não se entregam à necessidade meramente humana e mundana
De chamar tudo por um nome.

Um poema sem título - tem rima
Um sentimento sem nome - causa desassossego
Um amor que não se encaixa - simplesmente é.

manifesto de autossuficiência

Quis falar de coincidências
Que talvez você não veja.
Quis falar de relações
Que talvez nem façam sentido.

Quis falar do que eu sinto
- talvez você não sinta.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

a minha canção. o meu garoto. e um fim.

Ouvi uma história que não deviam me contar.
A história de um garoto que se afogou no mar.
Não caiu por acaso, decidiu se atirar.

"O garoto um dia nasceu. Um dia em uma família. Em uma família, em um lugar. O dia, a família e o lugar não importam: poderiam ser os seus.
O garoto, ainda bem jovem, se desapontou com sua família; buscou então amigos, vizinhos e colegas. Os amigos, vizinhos e colegas foram o bastante para si durante algum tempo, mas ele logo viu que não lhe satisfaziam completamente: um pouco menos jovem, o garoto passou a se apaixonar. Apaixonava-se como que por vício. Enamorava-se a cada pouco e, a cada pouco, cansava e mudava tudo.
Durante anos, o homem (pois ele já era um garoto de meia-idade) apaixonava-se, desapaixonava-se e reapaixonava-se como remédio para a paixão anterior... Apaixonava-se por pessoas, por ideias, por lugares, filmes e canções. Mas era tudo passageiro. Efêmero.

Já velho, muito velho, o garoto decidiu desistir de suas paixões. Mudou-se para uma praia isolada de tudo e de todos. Apenas ele, seu modesto chalé na encosta do morro e aquela imensidão de água salgada, que chocava-se nas pedras do morro.
Passou a escrever. Poesias, contos, livros inteiros. Durante horas, escrevia sobre si, sobre os outros. Sobre quase tudo e (por isso mesmo) sobre muito pouco. Lia aquilo que escrevia e sentia-se um pouco melhor. Mas ainda achava tudo muito morno, sem vida. Olhava ao redor, fitando sua praia, a cinzenta areia a colorir com tons melancólicos sua mente... Escreveu uma canção.

O garoto, dentro do velho, deu ao mundo seu mais triste som. Nos acordes, nas palavras, no tom de sua voz. Satisfez-se. Percebeu que era aquilo que devia ter feito anos antes. Percebeu que todos os degraus de sua ridícula existência culminavam naquelas palavras - e que, por um lance do destino, só o horizonte ouviria.
Assim, durante semanas, cantou para o oceano. O mar, como que aplaudindo, batia violentamente nas rochas, espumando e ecoando pela praia. O velho garoto sorria um sorriso enrugado para o mar. Um dia, subiu na pedra mais alta do morro, onde o vento rugia assustadoramente - ele não temia. Cantou o último verso de sua canção e..."

Simon & Garfunkel - Bookends

Time it was, and what a time it was, it was...
A time of innocence, a time of confidences.
Long ago, it must be, I have a photograph.

... preserve your memories, they're all that's left you.

pré-eco

Esse teu cabelo
Tem cheiro de saudade,
Porque parece que nunca
Termino de cheirar.

for the price of a night with me...

Porque está incluso no preço:
Desenhos abobalhados de dinossauros cor-de-rosa
Alegrias imbecis de sábado à tarde
Algodões-doces (metafóricos ou não)
Saudades eternas depois de um dia afastados.
...
E, no fim (seja quando for), tristeza.
Mas passa.
Isso também está incluso.

[... you'd be the village joke]

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

incrédulo

Se ela diz que sim,
Logo penso "mentira".
Não que eu prefira
Que ela diga não.

Não tem como ela acertar,
Quando eu julgo cada palavra
Como se fosse a última

Se ela gritar que me ama,
Vou achar suspeito
(mesmo que lhe saia do peito).
Se ela jurar fidelidade,
Vou imaginar seus dedos cruzados
(mesmo que nunca tenham estado).

Escuta...
Desista de promessas.
Invista em gestos,
Carinhos manifestos;
Beijos, abraços e olhares
Sem a menor pressa...

(sempre) primeiros beijos

Sem planos.
Que seja o que for;
Porque o que quer que seja,
Que seja o que é.
Sem amanhã nem depois.
(para o bem e para o mal,
por querer e sem querer)
E só assim será bom.

A única promessa que peço se cumpre no exato instante em que é proferida...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ou é música ou é amor.

Entra pela pele, pelos olhos, pela boca e até pelos ouvidos.
Colore por dentro. Faz brilhar lá fora; faz tudo ter vida, cheiro, cor, temperatura - nome e sobrenome.
Preenche. Completa. Embeleza.

Ou é música ou é amor.

passar por cima

... só quando olhei de perto percebi que ela estava chorando. Virei os olhos para outra direção: não queria que ela soubesse que eu havia percebido o quanto essa se importava.

Conversávamos seriamente. Pesadamente. Os fantasmas saíam todos do armário. Os assuntos mais delicados eram analisados criteriosamente. Fizemos, enfim, uma autópsia cuidadosa, atentando para tudo que apodrecera dentro de nós mesmos e que nos havia quase matado - como "nós".

Os minutos eram horas inteiras. E horas passamos. Falando, admitindo, corrigindo, tentando perdoar e tentando ser perdoados... Até que o sol se pôs, as primeiras frias brisas noturnas nos arrepiaram, e a lua nos convidou a fazer as pazes.