terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

S de Fim

Definitiva
mente,
eu não sei mais ser o ser pulsante que sabia ser quem fosse, sempre sendo o mesmo ser (mas vou tentar voltar a ser)

Sabia
mente,
escolhi o lado de cá da igualdade, pulei uma casa e me tornei a metade, o dobro e todas as potências impotências e vontades-de-ser-eu-mesmo.

O meu destino é ser um só, feito de muitos, que vêm e que vão, pra frente e pra trás, de outro prum lado, debatendo-se e entoando hinos de alegria de tristeza. Que maldade é maltratar a beleza...

Gris

Não dá mais pra ser o mesmo. O mesmo morreu. Morreu mesmo.
Soterrado sob toneladas de novas ideias e conceitos, de novas esperanças, jaz o antigo velho empoeirado, que morreu asmático, caquético, enferrujado e caótico - o que de certa forma ainda me atrai.
Frio, o cadáver ainda exala uma aura de sabedoria amargurada, algo como um ar gélido e inspirador. Algo extremamente mortífero e assustador - e por isso mesmo extremamente atraente.
Um dia ele irá colocar uma mão para fora da terra, um dia ele irá ressuscitar, acinzentar tudo em que tocar. O que me restará é escolher voltar a sê-lo ou deixá-lo perecer.
Cinza. Pó. Cinza.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Nada como recomeçar para repensar as práticas...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

não-aplicável

Eu devia esquecer de tentar pedir perdão.
Eu nunca vou ser o que você esperava de mim. Se até eu me desiludo comigo, o que esperar de alguém que sempre me viu como ideal, como a pessoa certa?
Desisti de ser outra pessoa, de assumir meus erros e corrigi-los, como uma criança que tenta aprender a guardar os brinquedos depois do recreio. Pro inferno! Eu não tenho e nunca vou ter jeito, vou sempre cometer os mesmos erros e magoá-la pelos mesmos motivos. Eu vou ser sempre o errado, vou ser sempre o sujo, o molestador, o estúpido, o mau - o mal personificado.
(ou pelo menos até o calor do meu abraço te trazer de volta, e eu voltar a ser o teu rei)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

caí

ter que sonhar o sonho que me mandam sonhar é mastigar a carne seca que me manda comer.
ter que viver a vida realizando o que se espera de mim é morrer a cada dia, é diminuir, deixar de ser.
não espere nada de mim nem de ninguém. eu vou te desapontar.
(eu não vou pensar mais nela)

queira ou não, a experiência é sempre a melhor forma de julgar a qualidade de qualquer teoria. Eu teorizo sobre vidas e coisas que eu presencio e sinto com minhas vísceras em chamas.
Então não queira desmentir a minha verdade com a tua verdade fria, porque a minha não ia, e não vai, se deixar diminuir por uma outra que a tenta ruir; pois o simples confronto do teórico frente ao prático é a ilusão de um enfrentamento que não existe, pois são esferas diversas e incomparáveis da compreensão humana, e a saudade é uma coisa louca que não me deixa mais pensar...

questão de linguagem

Eu quero criar!
Que sejam não-rimas, não-canções, não-histórias, não-negações. Que não tenham fim nem começo, que durem para sempre ou um segundo.
Que durem o tempo de serem entendedidas. Que não sejam entendidas!
Que morram no princípio da sua existência - ou que existam somente para quem quer vê-las.
Não precisam significar nada para quem não quer enxergar seu significado.
Eu preciso criar, não necessariamente criar algo belo, palatável ou compreensível. Eu preciso criar bolhas de sabão, que estourem e ecoem na minha consciência inconstante e que façam todo o sentido para quem quer que nos tenha colocado nessa vida, Deus, Diabo, Natureza ou Estatística - não importa, ele entenderá.


Óperas, cânticos, teatros, romances, crônicas, filmes, quadros, esculturas, fotografias, pornografias - nenhuma linguagem vai conter as palavras que eu quero dizer.
- eu vou é falar através do amor.

estrelado

Hoje eu queria luar. É um sentimento meio autista, ao mesmo tempo (e quase contraditoriamente) voyeurista, mas eu queria resplandecer sutil e monarquicamente sobre as águas viscosas e escuras de um lago isolado e esquecido.
Queria eu encantar e inspirar enamorados em suas juras vazias e descomprometidas.

Mudar toda noite, mostrar ora um lado, ora outro, mas sempre o mesmo rosto. Falsear por minutos, angustiando olhares, escondido atrás de uma nuvem densa. E, ao ressurgir, arrancar suspiros aliviados.

Mas, na verdade, tudo isso seria uma desculpa frágil pra mais pura e insaciável vontade de ter comigo quem brilha charmosamente, convidando meus olhos a um deleite irrecusável. Brilho democrático, de uma multidão por vezes invisível. E, no meio dessa multidão noturna e ofuscante, eu te vi, Vênus. Minha Vênus, símbolo de tudo que eu amo...
Vem estrelar a minha noite, que vou luar a tua vida.
Vem pra cá, estrela d'alva, brincar de noite comigo(...)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

isso arde

te amarei eternamente, serei sempre o bobo a te seguir.
serei sempre aquele a quem podes recorrer caso estejas sozinha ou triste.
morrerei agarrado à tua foto.
esperarei a vida toda pela chance que eu sei que nunca me darás.
mas esperarei pacientemente.
pensarei em ti todas as noites antes de dormir.
sonharei contigo.
eu sempre vou te amar - doa em mim, doa em quem for.

(foi frio porque é de verdade, e é só de verdade.)
é estúpido estar sozinho se tantas almas solitárias exalam a saudade das pessoas que elas nem conhecem

do modo

coração
bate distante
ecoa
salta pela boca

na boa,
volta pela mesma estrada,
finge que não houve nada,
que apenas ficou louca,
que quer cada instante
pleno

ou então canta um canto qualquer
bem alto
que te faço companhia
te trago a ladainha
que palpita sem controle
que me desgoverna

quero-te rindo de uma piada boba, mal contada
deitada do meu lado, feliz de estar viva enfim
feliz por saber que é àli que tu pertences
junto do meu ombro, abraçada e sorridente
quero-te hoje assim
- ou não te quero de jeito algum

salada mista (beija! beija!)

Hoje não tenho vontade de rimar
De buscar termos similares ou de inventar musicalidades
Eu vou escrever um verso torto só pra dizer quem sou eu (hoje)

Eu acordei com sono, dormi e acordei
Eu morri três vezes ainda antes de almoçar (duas de calor, uma de ciúme)
Mesmo assim, tive as chances, as palavras e o tempo - mas não tive a vontade
Mantive-me no nível que me propus
Estagnei e sofri as sanções que lhe pareceram apropriadas e aplicáveis
Contra a minha vontade, me prendeste a ti, mesmo que de longe, mesmo que sem querer, mesmo que só com palavras
Vai pro inferno, maldição; não te quero, quero antes a liberdade dos meu livros, das minhas músicas e da minha mente.
Quero antes a liberdade de nada querer.
Quero nada, tudo, ninguém e todos. Quero poder querer e desquerer.
Gostar e enjoar. Gostar de desgostar. Sem nunca desgastar, mantendo tudo pleno e colorido.

Sendo franco, poesia confessional rima apenas com mentira recalcada
Eu prefiro mentir sem vergonha e contar uma história

(agora tive um déjà vu, fiquei com medo, e resolvi parar de brincar de Deus)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

de verdade

Na noite clara de lua cheia, estranhamos a luz que emana, inexplicável. Sombras alongadas deleitam-se preguiçosamente, caçoando de nosso espanto pela sua existência. Mexemo-nos rapidamente, como que pedindo explicação para a luz que nos banha. As sombras seguem bem deitadas, rindo baixo da nossa surpresa.
Não contentes com a lua, que nos tenta enganar, bancando o rei (mesmo sendo ela rainha), discutimos possíveis sanções à sua monarquia... em pouco tempo nos perdemos em penas, castigos e brincadeiras. Dispersamo-nos do assunto, e chegamos à inescapável dúvida de "que diabos faz a lua lá tão alto, e brilhando tão soberba, como se o pudesse fazer?!". Sorrimos e então rimos, pois a lua bancou gente. A lua quis fingir. A lua, haha, é atriz! A lua... a lua quis brincar de sol.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

a culpa é dos meus olhos

Um uivo noturno
Um silvo soturno
Eu sou a sombra que te segue pelas ruas estreitas dos teus sonhos.

Sibilo suavemente
Palavras em tua mente;
Faço-te querer viver como vivo; respirar o ar que respiro; arfar no mesmo ritmo...

Minto todos os dias
Digo tudo o que querias
Finjo gostar de tudo o que gostas, finjo ser quem tu és, finjo entender a tua dor...

Assim, por fim:
Fujo covarde, fujo desembestado,
Fujo com alarde, fujo desgraçado.
Nunca mais mentirei!!
- a não ser que apareça
Formosa dama mui distinta,
E logo meu olho cresça,
E decida que ele minta.