sábado, 30 de abril de 2011

cidade, chuva e o que mais a gente for

chove na tua cidade,
e tu não estás aqui pra assistir.

caio na tua calçada,
e tu não estás aqui pra me juntar.

chove na nossa cidade,
e eu sozinho a imaginar
o dia que eu cair na tua calçada
e tu vieres me juntar.

chove agora uma garoa
que nem serve pra molhar...
só pra me lembrar das vezes que caí
(e tu vieste me juntar)

chove na minha cidade,
que nem é mais bem tua.
[e se não é bem tua,
tampouco minha há de ser.
vou aí cair na tua calçada
se assim escolher]

quarta-feira, 27 de abril de 2011

sorriso-e-até-logo

Brindo comigo mesmo ao teu sorriso de esperança;
Brindo aqui sozinho, ao desafio da distância.

Brindo triste e solitário:
Triste nem tanto;
Solitário por enquanto.

domingo, 17 de abril de 2011

combinar

(Ao vê-la do outro lado da rua, soube logo o que fazer. Recitou para si próprio um verso de sua canção favorita, respirou fundo e atravessou a avenida em direção a ela, não sem antes ajeitar seu chapéu favorito na cabeça.)
(Ao vê-lo atravessando a rua em direção a si, ela diminuiu o passo, respirou fundo e mirou seu reflexo em uma vitrine. Achava-se comum demais. Pelo menos estava com seu vestido favorito.)

Ele fez uma reverência esquisita, derrubando sua cartola. Ela riu; um riso situado entre o constrangimento e a empatia - era desastrada também.
Ela juntou a cartola do chão, deu um tapinha para tirar a poeira e colocou-a na cabeça. A cartola cobria-lhe as orelhas e mais de metade dos olhos. Combinava de um modo inesperado com seu vestido roxo e com seus sapatos bem lustrosos. Talvez fosse o brilho da cartola, talvez fosse a cor, talvez fosse o mero fato de que eram indiscutivelmente feitos para combinar...

tinha que ir

Ela não disse nada. Mirei-a com o olhar mais curioso e indagador que pude forjar e perguntei:
- Tu não vai me dar tchau?
Os olhos dela eram agora de súplica:
- Eu preciso te dar tchau? - e esboçou um sorriso nervoso.

Olhei em volta, como se alguém ali pudece decidir por mim - como se alguém ali pudesse me impedir de ficar. Cocei a cabeça, nervoso. Olhei para o relógio, para ela; para a minha passagem, para ela; para as minhas malas, para ela de novo. Virei-me para olhar o quadro de "partidas / chegadas".
... eu tinha que ir. Ou ficar.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Vai, acorda, que hoje eu vou te visitar.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

botas de garota de botas

Onde deixaste tuas botas,
Ó gato do telhado?
Aquele par que tu gostas.
Que nunca deixas de lado.

Terá sido numa lata de lixo;
Traindo a raça dos gatos,
Brincando com outros bichos;
Tão distraído que até esquece o sapatos?

Terá sido na casa de dona Margarida,
Que te dá um prato de leite,
Outro prato de comida,
E te deixa lá de enfeite...?

Acho que na casa de outro gato-tenor;
Não adianta esconder!
- a noite inteira a compor
Músicas e miados de prazer...

... procura bem em toda a rua
Tuas botas de cano alto.
Me dói menos que as encontre na tua
Que na cama de outro gato.

(e um dia tu me chamas
para olhar embaixo da minha cama;
o couro da bota reluz e debocha
do meu ciúme da tua galocha)