quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"escalando" (ou "a minha metáfora da vida")

... and I start to feel tired, as I begin to understand the point of living life.

My back aches, and so does my head. They're way heavy to carry and my feet start to deny it.
I sweat and I cry, then I stop to take a look at the view. I watch the world turning and turning, night giving up to day; day betrayed by night.

I climb and I pray for someone to feel sorry for me. I go on and on and on, and never look back from my shoulder.
I laugh. Alone. I'm insane. I realize I'm just working too hard and I'm just sane again.
I cry. Alone. I could never cry so I must have become a little bit more of a person.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

das histórias de amor

Não há explicação que convença, não há modo que funcione.
Não há chave nem fechadura, não há entrada nem saída.
Não há resumo, não há história.
Não há nada mais que tudo o que é.
Não há início que autorize, não há fim que encerre.
Não há nada de que fale que não seja amor.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

The Gift

O inferno mais ardente, a agulha mais afiada, a noite mais escura, a agressão mais cruel, o golpe mais covarde

A palavra mais ardente, mais afiada, mais escura, mais cruel, mais covarde.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Writ

... e não hei de criar nada mais sutil que o maior amor do mundo.

Sempre

Amigo, você me ama? Amigo, onde está você? Onde está teu ombro, onde está teu abraço? Por que tudo é tão frio longe de ti?
Eu quero sentar ao teu lado, no gramado mais verde, na noite mais escura e saber das estrelas mais tímidas, dos planetas mais mirabulantes, do futuro mais imprevisível, do passado mais longínquo, dos extremos do ser e do não-ser.

Por que é tão difícil não estar contigo,?
Se eu quero ser o teu luar!
Como é fácil ser teu amigo,
Como é difícil não te amar.

Saio às ruas te procurando. Eu procuro nos rostos a tua beleza, mas a deles não é como a tua. O teu olhar brilha. Eu te quero, como sempre quis.

Trovamos como cantores,
Brindamos nossos amores.
Olho-te no olho,
Mas se tu me olhas,
Meu olhar eu recolho.

Eu sou um anjo caído, atingido por uma flecha, munido de uma mecha de teu cabelo, marchando em um camelo no deserto-do-que-não-é-certo.

Amigo eu te amo
Amigo eu te amo
Amigo eu te amo!
(...)
Mas se tu não me amas...
Igual, amigo eu te amo

domingo, 6 de dezembro de 2009

do que eu quero

Eu corro todos os dias.
Eu corro atrás de coisas que eu não quero, mas que me fizeram acreditar serem importantes. Busco gostos, sons, cores e cheiros que não são meus favoritos. Procuro motivos para tomar as atitudes que me são esperadas, mas não encontro nada além da tradição, do blablablá da manutenção da ordem. Eu quero ser o que eu quiser!
Quero colher o que eu semear e quero semear o que eu quiser colher...

Deixe-me ser eu mesmo, com minhas dúvidas, minhas confusões, minhas palavras, minhas complicações, meus exageros, eu!

- eu quero nascer de novo, unicamente pra ser eu mesmo de novo, só que um pouco mais.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

janel'aberta, vent'uivante

Eu mudei! Não sou mais o mesmo...

Poderia repetir isso a cada semana e soaria sempre como verdade.
Mas juro que estou feliz. Agora. No trem.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

balas, bolas e balões

abastados bastardos debatem-se, abatidos pelo abate de seu abre-alas. abanam e abanam-se, como que abnegando da mais absoluta bastância; abdicam de obter belicosa abusão: um abrasivo e (mesmo que) abatido abraço.

dia de...

Cure-me da dor, da perda, do frio. Das pedras, da correnteza, da profundeza.
Liberte-me da gruta gélida e úmida em que me jogaram.
Faça-me sorrir, faça-me cantar. Faça-me a pessoa mais feliz do mundo.
Convença-me de que quer pouco, muito pouco, mas que neste pouco estou eu.

Mesmo que por apenas um dia,
me ame.

the farther one travels, the less one knows

Qualquer futuro mais longínquo que o seu braço possa alcançar é futuro demais para sequer se preocupar.

sábado, 21 de novembro de 2009

quem diria...

Euforia: alforria da alegria, que se travestia de melancolia e de agonia, que não saía e que caía na calmaria - até que sumia. Isso acontecia até certo dia;

agora explode e me constrange...

platônico latente (em crescendo)

Excetuando-se os milagres, viver é mesmo um saco.

É sempre alguma desilusão - pequena ou grande. É sempre esperar que ele faça isso, que ela faça aquilo; ou que diga a frase perfeita, as palavras que queremos ouvir. Ou que sinta o que sentimos.

Mas nunca é assim. Há, de fato, um universo entre as pessoas. Há milhões de camadas separando cada um de nós, tornando-nos impermeáveis e incompreensíveis.


Excetuando-se as alegrias, apaixonar-se é mesmo triste.

Amor platônico é um amor errado - pois está fora do sujeito (o que ama). Amor platônico é mau por definição. É amor às avessas, pois não se realiza - e amor de verdade é o que se faz, não o que se pensa. Amor errado; ferida que, lambida pela língua de outrem, não há de sarar.
É triste, e não tem saída. Não tem fim. Não, não tem. Há de carregá-lo até o inferno, até a última cinza que há de ser queimada. É cruz, é fardo; uma penitência.
Perdoa os que amam, pois eles não o fazem por gosto. Fazem porque é sua missão. Fazem porque é o que podem. Fazem. E seu fim já há de ser amargo. Portanto condoa-se do miserável, que já perdeu seu sono, sua alma e seu afeto.
Perdoa-me se não soube ver antes.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Epic", or "the quoting of a life-time"

Ooh! Get me away from here I'm dying! Play me a song to set me free! (Belle & Sebastian)

Since I don’t have you (Guns and Roses), I’m a real nowhere man (The Beatles), and I guess that I just don't care (The Velvet Underground - Heroin) – and I don't need to be forgiven (The WhoBaba O’Riley). What is it I must do to pay for all my crimes? What is it I must do? I would do it all the time (Belle & SebastianThe boy done wrong again)… Sometimes I wish I'd never been born at all (QueenBohemian rhapsody); sometimes I wonder should I stay or should I go (The Clash) straight to hell (The Clash). Sometimes I dream I'm a fisherman, sometimes I dream I'm a millionaire, and sometimes I dream I'm a true lover (Antsy Pants - Sometimes). Sometimes I feel so happy, sometimes I feel so sad; sometimes I feel so happy, but mostly you just make me mad, baby you just make me mad (The Velvet UndergroundPale blue eyes)- though in the end it's always me alone (The CardigansMy favorite game).

The man in me will hide sometimes to keep from bein' seen, but that's just because he doesn't want to turn into some machine (Bob DylanThe man in me). My obsessions get me known throughout the school for being strange (Belle & Sebastian - Expectations): I've got too much on my mind; I think of everything to be discovered - I hope there's something to find (Paul McCartneyEver present past)… I have my books and my poetry to protect me (Simon & GarfunkelI am a rock). All I ever wanted was to sing the saddest songs - If somebody sings along I will be happy (Belle & SebastianThe boy done wrong again). Life could be musical comedy (God Help the GirlHiding ‘neath my umbrella)… If you live you will learn - I live and I learn (The Cardigans).

A day in the life (The Beatles), we were talking about the space between us all, and the people who hide themselves behind a wall of illusion (The Beatles - Within you without you) and about how when the broken-hearted people living in the world agreed, there would be an answer. (The Beatles Let it be)

I said: I have made the big decision - I'm gonna try to nullify my life (The Velvet Underground - Heroin)! For living is easy with eyes closed, misunderstanding all you see (The BeatlesStrawberry fields forever). No, no quiero imitar y, por ser como todos no ser nadie (El Cuarteto de NosNo quiero ser normal). You better free your mind instead! (The Beatles - Revolution) Can you hear me that when it rains and shines, it's just a state of mind! Can you hear me? (The BeatlesRain) Arrive without travelling; see all without looking! (The BeatlesThe inner light)

She turned to me and said, just like a woman (Bob Dylan) “Soon you will know that you are sane (Belle & Sebastian - Expectations). If you don't like things you leave for some place you never gone before (The Velvet Underground I found a reason)”. So I took my things and left (Belle & SebastianSukie in the graveyard).

It's a wicked life but what the hell; the stars ain't falling down (Bob DylanGoin’ to Acapulco)... “When you've seen beyond yourself - then you may find peace of mind, is waiting there; and the time will come when you see we're all one - and life flows on within you and without you (The Beatles)”

Limitless undying love shines around me like a million suns, and calls me on and on across the universe (The BeatlesAcross the universe)… It ain’t me babe (Bob Dylan); anyway, don't think twice, it's all right (Bob Dylan)! ‘Cause you’re the storm that I believe in (The Cardigans). Even when I watch TV, there’s a hole where you’re supposed to be (John Lennon - Dear Yoko)…

I want you (Bob Dylan) and all I want is you (Barry-Louis Polisar), so why am I so shy when I’m beside you (The Beatles - It’s only love)? But it's not that way; I wasn't born to lose you (Bob Dylan - I want you).

“How does it feel to be without a home - like a rolling stone? (Bob Dylan)” Feels like I’m a pretty strange animal (Antsy Pants - Sometimes). Now I'm so happy I found you - how I love you (The BeatlesLong long long).

“How does it feel to be one of the beautiful people? (The Beatles – Baby you’re a rich man)” Maybe I’m amazed (Paul McCartney).

“How does it feel to be such a freak?” Impossible. (Bob DylanBallad of a thin man)

"My advice is to not let the boys in (Bob DylanTombstone blues)", said the pale-blue-eyed girl (The Velvet Underground). She makes love just like a woman, yes, she does; and she aches just like a woman - but she breaks just like a little girl (Bob DylanJust like a woman). Got no deeds to do. No promises to keep. Life I love you – all is groovy! (Simon & Garfunkel - The 59th street bridge song)

...

And now, what was golden went grey (Joanna NewsomPeach, plum, pear), and you've changed your mind (The BeatlesNot a second time)… “I don’t think I could stand to be stuck, and that’s the way that things were going! (Belle & SebastianAct of the apostle II)” So I said goodbye to someone that I love. It’s not just me, I tell you it’s the both of us - and it was hard… (Belle & SebastianIf she wants me)

I walked down life's lonely highways, hand in hand with myself… (The Velvet UndergroundI found a reason)

So next Friday I’m in love (The Cure) again (just like starting over [John Lennon]). I saw a face, I can't forget the time or place where we met; she's just the girl for me and I want all the world to see we've met (The BeatlesI’ve just seen a face)! But it’s gonna take money – and it’s gonna take time (George HarrisonI’ve got my mind set on you). We eat and we drink, we feel and we think (Bob DylanWhen the deal goes down)… I kept taking everything to be to be a sign (Belle & SebastianI’m a cuckoo)! Regarding the wrong girl (Belle & Sebastian), she said “And I bet she’s making shells back home for a steady boy to wear ‘round his neck; well it won't hurt to think of her as if she’s waiting for this letter to arrive…(Belle & SebastianI fought in a war)”

My mind's distracted and defused. My thoughts are many miles away - they lie with her when she’s asleep and kiss her when she starts her day (Simon & Garfunkel – Kathy’s Song) … Silent cloud, oh, Ocean child (The Beatles - Julia)! Rain, please tell me now does that seem fair, for her to steal my heart away when she don't care? I can't love another when my heart’s somewhere far away… (The CascadesRhythm of the falling rain)

You're just a storyteller - you're not trying to escape responsibility. If I believe you then you're successful! (Belle & Sebastian - Storytelling)”

Rain in her heart and let the love we knew start to grow… (The CascadesRhythm of the falling rain)

And finally I do goddamn I do goddamn see (Devendra BanhartTell me something)! There's no problem, only solutions! (John LennonWatching the wheels)

So I will love you just the same… (Belle & Sebastian – To be myself completly)

S. O. (n) S.

tôk'uma zidéi azaí...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

experiência própria III

Entenda como quiser - se for entender, mas

Amar é estar feliz. Amar é estar livre.
Amor não precisa ir para lugar algum. No máximo para o rosto ao lado...

experiência própria II

Liberdade é não precisar saber para onde se vai.

experiência própria

Felicidade é ter alguém do lado, tão próximo que basta virar o rosto para dizer "estou feliz contigo".

Devendra Banhart - Tell me Something

Tell me something,
Do you love him?
Does he love you too?
- like I love you...

I know nature is beside me
When he's inside you
I feel it too...

Here's a picture of my mother;
There's no-one like she...
And finally
I do goddamn, I do goddamn see.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

E eu vim

Talvez eu tenha molhado demais uma plantinha na última chuva.

Talvez agora faça frio e haja vento cortante - inquieto e gritante. Que eu amo.

Talvez tenha acabado a inocência, a inoperância e a estagnação. E talvez seja bom.

Talvez eu me arrependa, talvez não; talvez eu volte atrás, talvez não.
Tudo depende do clima. E o clima sou eu. E és tu. Todos nós. Porque se eu chovo, tu brilhas e ela relampeja - I don't mind, the weather's fine!

Chame como quiser, mas eu sou o universo, a infinitude e todas as possibilidades que existem e inexistem - eu sou uma alma. Viva. Pulsante. Visceral. Infernal. E eu vim pra te pegar.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

I'll most likely end up in hell

Revisão

Saudade do tempo em que eu não tinha saudades indefiníveis.
Vontade de querer fazer o que eu tenho que fazer.

Conclusões aceleradas geram riscos não-calculados, mas trazem a satisfação momentânea de um saída, de um fim. Riscos não-calculados, posteriormente, nos levam a voltar atrás nas ações que tomamos, o que é, no máximo, uma revisão atitudinal, passível de olhares tortos e irreverentes comentários soltos - mas que nos faz crescer.

Eu afirmo o que sempre quis dizer mas não disse: amor próprio não é amor. O amor é impróprio por definição e só existe do lado de fora.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o conciso, a hermética, e o fim-do-nada

Tudo que um dia quis foi te libertar, foi fazer com que tu te tornasses livre, bela, segura e independente. Tudo que é livre é mais belo; tudo que é seguro de si é mais livre; tudo que é independente se torna mais seguro...
Mas se tu gostas da tua prisão, quem sou para dizer que estás errada? Pois que se dane a minha certeza, se a tua te cega a ponto de não me entender...

Não quis te aprisionar, não.
Desejava-te puro amor, não posse ou inveja.
Queria-te amada e querida - como sempre serás.
Eu sou quem tu és. Eu sei quem tu és - nós somos o mesmo, só que eu sei o que eu sou, eu sei o que eu quero, e eu sei como eu vou conseguir.
E, juro, pelo ar que respiro: eu vou conseguir - quando parar de pensar em ti e por ti.

E, quando o dia chegar (e falta pouco, creia), eu vou rir. Vou rir; liberto, sincero, honesto. Não, eu vou gargalhar, vou ter contrações, vou espumar. Vou ser eu - sem ti, só eu.
Vou ser todo amor - para mim. Vou ser todo ouvidos - para mim. Vou ser todo olhos, pêlos, nariz, mente, corpo e coração - para o mundo e para mim, é bem verdade.
Terás perdido, então, a chance de ter a mais fantástica saída, o mais maravilhoso desatino, o mais extraordinário surto - uma paixão correspondida.

Pois se uma carta não é uma carta se não a assinamos e não a endereçamos,
então sou tua consciência, e tu és o coração.
Eu sou quem pensa, quem entende e quem nos mexe,
tu és quem nos prende neste morno eterno - neste mar torturantemente pacífico e repetitivo.

A culpa é tua! - o azar que é meu.
O futuro, que era nosso - de quem o queria,
Simplesmente foi-se, morreu;
O presente é que se impõe, dia após dia...
Desisti, desfaleci sob a porta fechada,
Que segue fechada, coitada.


E o conciso sou eu, a hermética é ela, e o fim é do nada
Pois nada houve, nada consta.
Houve amizade, houve conversa,
Houve paixão, e uma paixão perversa!
Houve amor, um proto-amor de proveta,
Amor que será esquecido no fundo de uma gaveta
É o fim, o fim do nada, o fim de tudo-que-poderia-ter-sido-e-não-foi
Mas nada houve, nada consta.

domingo, 18 de outubro de 2009

And now I'm losing you
And it's killing me.
It's the strings that I tie,
I would rather just die,
Go to hell and crawl back
Than let it all go...

herança, lembrança - e a última instância

cave um buraco. o mais fundo que puder.
entre no buraco.
peça para alguém de confiança para encher o buraco de areia.
tente convencer alguém de confiança a fazer isso.
desista e pague alguém que não é de confiança para fazer isso.
pague, agora, alguém de confiança, que não vá fugir com seu dinheiro.

espere até a última pá de areia cobrir o seu rosto.
tussa areia, asco, barro e ódio, enquanto pensa que devia estar bem longe.
asfixie enquanto lembra de todas as coisas doces que já comeu.
sofra das dores mais terríveis enquanto lembra da sua primeira briga, do seu primeiro beijo, da primeira vez que pegaram sua mão...
desmaie lembrando de todas as vezes que sentiu que amava alguém.
morra devagar, desejando a vida.
morra devagar, desejando mais uma chance.
morra devagar, sofrendo cada segundo - como achava que havia sofrido.

é isso que dá querer ser maior que a vida.

eu mudo

eu-não-minto, eu-só-sinto ora-com-o lado-de-cá, ora-com-o lado de-lá-do-coração.

sábado, 17 de outubro de 2009

Foolish Dylanish

I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you,
I wasn't born to lose you;

I want you, I want you, I want you so bad...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

punção cerebral

Não me arrependo, nem me permitirei arrepender.
Mudei meus conceitos e são estes que apresento os que vieram para ficar. Sou essa pessoa - diferente da de ontem, e diferente da de amanhã.

MORRERIA hoje; como morreria quando me engasgo em angústia. Mas morreria de nada, de marasmo, afogado num oceano parado.

O inferno deve ser um lugar chato, molhado, quente e cheio de gente que nem eu.

Eu quero correr, pular, beijar, cantar, amar, sorrir, ser feliz e morrer feliz. E faço isso todo dia. Eu não gosto disso.

Certo ou errado, o fato é que foi consumado, foi realidade e não se há de pensar mais sobre isso - mas se há de repetir.

Não se assuste com tudo isso: é só o tempo que demorou a queda de uma pedra jogada de muito alto em um poço muito fundo. Uma pedra que bate em um baque prolongado, cheio de reverberações e de mudanças sutis nas nuances sonoras, cheio de gritos escondidos, cheio de pedidos indiretos e sussurrados, cheio de vida, cheio de morte, cheio de amor - o que eu chamo de poesia. Cinza, poesia cinza, úmida e sutil. Mas ainda poesia.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

1040 d.C.

sou um conde,
subo um monte,
vivo a andar,
sem jamais chegar,
a qualquer espécie de lugar.

ando a pé, ou ando montado,
fumo cigarros, charutos ou cordas,
fumo meus sonhos. sem filtro. até a ponta.
ando sozinho, ou juntinho,
de pé ou sentado.
como passas, frutas e tortas,
como minha vida. sem garfo. até a semente.
como eu mesmo, como quem sou,
autótrofo assim,
hierarquicamente,
pois é só minha mente
que come o que resta de mim.

luto com escudos e espadas e calças,
luto com escudos e espadas falsas,
porque luto a minha luta no luto de quem luta consigo
travo uma peleia contra o dono de mim, que acontece de ser eu mesmo
que vivo a esmo
sonhando quem sabe um dia encontrar-me comigo
e viver uma história,
dessas bem bonitas,
cheia de vitórias,
de véus e de fitas,

perdoe-me se rimas ricas
não são meu forte,
eu busco novas dicas,
as busco de sul a norte,
mas não há quem me ensine,
quem me mostre o que rime...


me despeço do que chamo, clamo, tramo, grito e exclamo
eu mesmo, eu me amo.

PRO INFERNO

pensei em escrever algo, aí primeiro pensei "não, não vai sair nada bom. e como eu não tenho filtro, vou publicar um troço ruim e sem pé nem cabeça".

mas depois fui me acostumando à idéia, e logo cheguei à conclusão que a minha falta de filtro talvez seja apenas uma condição inerente ao fato de que tudo que eu escrevo é sincero e é visceral. Tudo tem meu cheiro, meu sangue e minha mão. Tudo que eu faço sou eu escrito, desenhado, cantado. Tudo que é eu faço é ruim, mesquinho, egoísta, estúpido, impulsivo e repugnante, como eu.
Tudo que eu faço, eu faço sem pensar, sem olhar para os lados, sem criticar e sem repensar. O que e eu fiz está feito e eu não me arrependo - porque eu sou tremendamente orgulhoso, o que de certa forma me torna ainda mais repugnante.

Pro inferno com tudo isso, eu sou quem eu sou e hei de ser aceito por quem quer que seja. E por "aceito" subentenda-se todo o resto.
Pro inferno com a modéstia. Eu sou genial e vou morrer em um caixão dourado, pago por outrem, já que morrerei pobre e infeliz. Amargurado pela desimportância conferida aos meus dizeres. Desgraçado pela miséria moral do meu mundo. Enojado pelos pedaços que escorrem do teto, remanescentes do pouco que sobrou do idealismo, da pureza e da liberdade. Caem como carne putrefeita aos meus pés.

Pro inferno com a vida e a morte - eu estou acima disso.
Decido que serei o que nasci para ser, e pro inferno quem duvida - são todos doentes e perecerão à primeira chuva de iluminação conferida pela sabedoria, pela experiência e pelas palavras (que são, afinal, as mais puras porém deturpadas ferramentas da humanidade).

Não saiu nada bom, mas eu vou publicar esse troço ruim sem pé nem cabeça pelo simples fato de eu não ter filtro e de eu gostar de dizer "pro inferno com...".
Pro inferno com o filtro e o inferno.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

do temer

por que hei de me prender à realidade,
se o que sonho é tão verdade
e o que vejo nunca é novidade...?
(eu tenho medo é de saber
- de mim e de ti)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

do que eu sei.

(Instruções básicas:
Leia em voz alta, e em ritmo acelerado)



Glórias ao trabalho, aos horários
[e também à servidão];
Glórias aos senhores, aos salários
[e também à industrialização];
Salve, salve os que foram empregados
[ - e também os que serão]

Salve férias na praia
(com gente da sua laia),
Salve ônibus lotados
(salve, logo, os tarados),
Salve o calor, salve o suor;
Salve o calor, que só fica pior:
- Glórias ao ar-condicionado!
(muito embora ele fique
[na sala logo ao lado])

Salve os pais e seus problemas,
Salve os filhos e seus poemas,
Sobre o trabalho dos pais;
Embora saibam muito mais
De sua arte de ter calma,
E da certeza de entender
- que só o amor eleva a alma.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

flaco & fraco

se me atirar
e me soltar,
sem comer
nem beber;
não respirar
nem acordar;
me desprender
e me perder;
e me prever
e me perder,
e então morrer.
(porque eu vou morrer)

se isso acontecer,
tu vais ver
(e é fácil perceber)
e me dizer
que se importar
não é se rebaixar,
não é nem melhorar,
e que amar
não é deixar de ser,
não é deixar de querer,
é deixar de esperar
- e começar a se doar.

Fool me, would'ya?

Love me, love me, say that you love me;
Fool me, fool me, go on and fool me;
Love me, love me, pretend that you love me;
Lead me, lead me, just say that you need me...
I can't care 'bout anything but you.

hipócrita

Que direito tenho eu sobre teu corpo, tua mente e teu tempo? Quem sou eu para habitar cada uma dessas esferas? Quem eu acho que sou para pensar que mereço a tua atenção e o teu amor - tanto quanto eu quero?

E por que me perguntar isso não faz com que eu deixe de me importar? Volta, por favor.
e não diga que não há dia em que você não queira deitar e chorar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Senti frio e calor.
E cheiros novos. E vi cores novas. Acho que andei chovendo - e que choveram em mim.

Acho que amo cada pessoa que conheci nos últimos 10 meses. E acho que me apaixonei por metade delas pelo menos uma vez.
Não morreria por nenhuma, mas viveria por todas.

Porcelana quebrada e o artesão feliz

Nasce pelado, aprende sentado, caminha apressado, enxerga borrado, fica fechado.
Não se abre botão.
Me fala em traição. Me chama vilão. Mas vive em vão. E vive uma ilusão. Acorda pela minha mão. E me morde a mão. Não me olha, não, irmão. Só quero mesmo aquela paixão. E não quero mais ação que viver de emoção e morrer do coração (sem nem mudar de entonação).

Queres saber, dizer, ver, beber e me deter.
Vais te perder, te conter, te recolher, eventualmente morrer mas nunca fazer-me desfazer daquilo que achas que eu a fiz fazer. Eu nem tive que lhe dizer - ela queria fazer.
E não vais nunca me deter.

(risada maléfica a que se segue próximo ato,
que começa com a risada mas quem ri é o homem-rato)

Porcelana dois-em-um

A vítima que sofre e faz sofrer
Sofre dobrado
Por não saber perder

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ahhh, não deu.
Melhor desistir, parar de procurar; fechar as janelas e portas - e esquecer tudo isso...
[Opa, deu sim!]

terça-feira, 21 de julho de 2009

hit-mow

eu não faço poesia
eu falo d'alegria
[e sua negação]

"anhé?"

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Vivendo Senti

Caminhando pela calçada,
Eu penso em quase nada,
Exceto que nunca entendi
Por que diabos vivo senti.

De casa à casa,
Eu vou mas sempre volto;
Essa gente toda se casa,
E eu que me revolto;
Por que vivo e vivi
A vida toda senti?

Minha verdade é uma só:
Vivo bem, mas vivo só;
Assim de pé no chão,
Vivendo a água e pão...
Meu Deus, sim, eu já caí
Na mesmice que é viver senti.

Sinto
E sinto que senti tudo que senti
Por estar sentindo senti.

Caminho por uma rua,
Beijo uma boca,
Chamo por um nome...
A boca não é tua,
A rua é de uma louca,
Que beijo pra matar a fome
De viver a vida porti - e senti.

Suicidal Letter fail

Hoje estou decidido.
Levanto e tomo papel e caneta.
Prepararei minha última mensagem a todos que se importarem o bastante para lê-la.
Penso em ti. Penso no teu rosto (em quão longe do meu ele está). Penso na tua voz (ela que ecoa no meu consciente e perturba meu inconsciente). Teus olhos, teu cabelo, tudo. É... É melhor assim. Escrevo.

"A morte não me assusta. A idéia de não mais ser me é quase indiferente. Não será, portanto, o medo a me impedir. Se algo de fato me impedir, será a réstia de coragem - coragem de viver. Sou, então, duplamente corajoso? Corajoso frente à morte, corajoso frente à vida?
Se assim fosse, não estaria a escrever e a me encerrar.
Talvez a questão não seja de coragem e covardia, mas de desejo. Não tenho medo de montanhas - nem por isso escalarei uma. Não temo a vida - nem por isso manterei acesa sua chama.
Partirei, e isso já é uma certeza.
É triste que não me cause tristeza.

Não julguem minha covardia, pois ela faz parte de um modo diferente do vosso de encarar o mundo. É uma opção, tomada por alguém que optou por viver de um jeito e agora opta por morrer de um jeito.

Nunca me neguei um beijo ou outro prazer comparável. Nunca neguei um afago ou uma palavra doce. Não tive medo de amar e de expressar amor. Não tive medo de ser iludido ou de ser invejado. Apenas vivi do modo que julguei ser o certo e, agora, do alto dessa colina, olho para trás com orgulho. Afinal, certo ou errado, é o caminho que escolhi e me trouxe frutos. Longe ou perto, cheguei a algum lugar, e foi graças a minhas escolhas.
Minha sinceridade era gritante. Eu não mentia. Não mentia para mim, não mentia para os outros. Há meses, talvez anos, não minto.

E contigo não foi diferente. Não menti para ti. Fui sincero como uma criança e disse as maiores verdades da minha vida. Sim, sim, ainda te acho fantástica.
Queria-te do meu lado. Faria de tudo (tudo, tudo) por isso. Mas tu desististe de mim. Tiveste medo do vento e da chuva. Do frio e das nuvens negras. Tudo que eu não temo. Tudo que sou.
Sem ti, não tenho o porquê de ser. Não sei e não quero saber. Viver te amando sem te ver/ter é não-viver. E de quase-vivos já me bastam os que eu critiquei por tanto tempo. Não têm razão de ser; pois também não tenho. Que sou? Coadjuvante da vida de alguém brilhante. Que morra então.
Que morra pois, sem ti, me resta o que é supérfluo - e não é com o supérfluo que quero conviver.
Que morra, pois, sem ti, nada faz sentido - e nem quero que nada faça sentido.

A simples visão do teu rosto me inquieta. Teu nome, dito num sonho, me faz acordar, palpitante e desesperado. Estou desesperado por ti. Por tua voz, teu cabelo, teu rosto...
Droga!

Só de pensar em ver teu rosto de novo, tal carta já não tem mais propósito.
Morrer seria abrir mão de chance de te ver, mesmo que de longe. E se é tudo que eu posso ter, que o seja.
I''ll get you in the end."

Amasso minha quase-vida e a jogo no lixo, de onde ela fica me olhando e caçoando.

sábado, 18 de julho de 2009

(30/06/09)

Juro que tudo seria verdade.

Juro que dormiria de luz acesa (mesmo que eu saiba que tu não tens medo quando tem mais alguém contigo), de porta aberta e te fazendo cafuné.
Juro que viajaria o mundo contigo, te faria rir (38 vezes ao dia, na média).
Te amaria, te abraçaria e te daria o mundo - o meu mundo.

Tocaria música contigo.
Acordaria contigo. Faria exercícios matinais contigo. Juro. Juro mesmo.
Beberia contigo. "Até ficar bêbado?" Até ficar bêbado. Pode tentar.

Seria feliz e te faria feliz. Seria bom e tu serias melhor.


- Não desiste de mim. Eu não vou desistir de ti.
E se eu tiver (mais) medo? E se eu ficar com frio? E se eu ficar frio? E se eu morrer?
E se eu me desapaixonar, se o mundo cair e o céu rodopiar?
E se eu morrer?!

E se eu perder, se eu não ganhar - e se eu não for o escolhido?
E se o mar se abrir, a terra rachar... e eu ouvir um "não"?
Se eu não for especial, se eu não for único, se ninguém me amar, eu vou chorar?
Se eu morrer e ninguém me enterrar? Ah, Deus, e se eu morrer e ninguém notar?

E se eu tiver medo de dizer que tenho medo de tudo e de todos?
E se o mundo for difícil demais, se a vida for longa demais e eu, covarde demais?
E se eu desistir?
E se eu pular fora?
E se eu morrer?
E se eu quiser morrer?

E se eu romper todas as promessas e desejar apenas não ser mais eu?
Se eu preferir ser nada a ser o que me tornei - a ser o que me tornaram?
E se eu preferir não existir a aceitar o fato de odiar a pessoa que sou e as decisões que tomo?
E se eu morrer e não me importar?
E se não amanhecer? Se não chover? Que diabos eu farei se não chover?!
Tu vais chover por mim?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

poema ao estilo quintanista, pobremente modernista, feito para ser declamado por um tolo apaixonado de gosto duvidoso

Espero que a espera não seja em vão.
Espero que mude a cada dia tua visão.
Espero que tu queiras sempre minhão mão.
Que eu pergunte "tu me amas?" - e tu nunca digas não.
Que o futuro seja justo.
Que o amor tenha seu custo - eu o pago a prestação.

Que os sonhos sejam nossos,
Que os dias sejam nossos;
Porque a vida, ela é nossa;
Ela é nossa pra viver,
Nossa pra gozar,
Pra gostar e pra amar
- Amar um ao outro,
E o outro ao um.

Espero que os dias sejam longos,
E os anos sejam curtos
- Ao amor infinito digo não;
Porque se durar uma dia,
Terá durado um ano então.
Mas se disser que durou uma vida,
É porque ela foi perdida
E meu amor foi em vão.

Meu amor não é só teu,
Mas é teu por definição;
Teu amor não é todo meu,
Mas é meu teu coração.

Não sai da minha vida,
Não desiste de nós;
Quero uma saída
Pra essa vida a sós...

terça-feira, 30 de junho de 2009

I'll get you in the end

Estúpido, ridículo, cruel, fraco, covarde e medroso.
Sim, medroso! Tem medo de que alguém te mostre o que ele finge mostrar. Tem medo que o mundo entre na tua cabeça e que lá não mais haja espaço para ele. Tem medo do vento, tem medo da noite. Tem medo de mim?
Egoísta, estúpido, monstro do dia e do medo. Tem medo, o desgraçado! Tem medo porque não sabe que devia era ter mais medo. Medo dele mesmo - da sua estupidez inata.

Pois eu não temo. A alma acorrentada busca a liberdade. E tu a buscarás. Ah, sim, um dia a buscarás. Pela noite que cai sobre o dia, eu juro, tu serás livre.

Um coração preso não é um coração pleno, não é um amante feliz. E tu não o serás. E ele não o será. E serão incompletos os dois. E ele será miserável por sua fraqueza e por seu medo injustificável. E tu serás cúmplice da covardia dele. Mas tu buscarás a saída, tu buscarás a liberdade. Eu acredito em ti. Tu queres o mundo. Tu mereces o mundo. O mundo é teu, é meu, é de quem o quer - e tem a coragem de o perseguir.
Deixa-o sozinho no seu mar de nada. NADA. Não é nada, não é nada, NADA - ele não é nada nem ninguém sem ti, tola. Entende, em nome da vida que começa a cada dia, que o que vos une não é mais paixão, não é mais calor. O que vos une, doce anjo perdido, é o hábito de estarem unidos. O que vos une é o medo - do qual tu deves escapar.
FOGE!
Foge dessa vida que te oferecem.
Não, não vem comigo, não vem com ninguém. Vai contigo, pois tu és a dona da tua vida, a dona das tuas ações. Eu seria prisão, tanto quanto qualquer um, se não soubesses o que queres e o que tens; o que pedes e o que recebes.
Amanhã te arrependerás - e sabes disso. Mas não deixas de fazer tudo que tu sabes ser errado. E eu entendo - eu também já o fiz. E por isso posso dizer: te arrependerás.
FOGE
Foge tu contigo, foge tu de ti, foge tu de todos que só querem te ter. Foge do passado, foge do presente. Foge dessa vida que te oferecem. Foge e terás as opções que sempre quiseste.
Encontra-te, descobre quem tu és. Serás mais forte, serás mais tu.
E tu é tudo que tu tens que te tornar.
E tu és a conclusão perfeita de tudo que o mundo te pede que sejas.
E tu és tudo com que eu sonho, se é que eu ainda posso sonhar contigo - e posso?
Posso sonhar com as coisas com que sonho?
Não podes me impedir de querer, de sonhar. Pois é contigo que vou sonhar. Sonhar com teus olhos, com teus sorrisos, com tua voz e tuas palavras. Sonhar que tu estás comigo. Sonhar que tu sonhas comigo. Sonhar que tu acordas do meu lado. Até o dia em que acordar do teu lado.

Eu sou noite, eu sou vento, eu sou chuva. Eu sou ar, eu sou terra - eu sou vivo e eu quero viver.
Que és tu? Que queres tu?

Pela vida que vives, jura, tu serás feliz com quem for e do modo que for.
Pela vida que vives, jura, tu serás livre. De mim, de todos.
Pela vida que vives, jura, tu serás tu, mesmo que para isso me consuma eu.
Pelo ar que respiro, juro, eu estarei vivo para ti como sempre estive, se assim quiseres.
Pelo ar que respiro, juro, eu estarei aqui, de mãos e pés livres, para ser livre contigo.
Pelo ar que respiro, eu juro - eu te quero, mas te quero porque te quero.

(eu jamais te perderia assim)

sábado, 6 de junho de 2009

autobiografia de outrem

Era nuvem.
Nuvem carregada, escura e densa. Era nuvem insistente de chuva que não chovia.
Nuvem da espera que não termina. Nuvem etérea, que não se deixava cair. Era pesada e negativa. Nuvem negra que, impondo sua presença, se tornava invisível. Era sim triste e frustrada, parada e gélida. Era incompleta e abandonada - e assim se via e se martirizava.
Deixava-se dominar por toda sorte de maus pensamentos, más esperanças e sonhos-dos-outros - que nunca foram seus, mas que estavam lá nas suas aspirações. De sonhos-dos-outros já bastavam aqueles dos quais não escaparia. Queria sonhos seus.
Sabia o que queria, essa nuvem. Era uma nuvem deveras pensativa. Absorta nos seus desejos secretos, encolhia-se em seu mundinho e, assim, só se tornava maior, mais escura e mais densa.
E era assim a vida da nuvenzinha. Crescia por fora, mas não por dentro.
Angustiava-se com o tempo, mas não tentava moldá-lo. Angustiava-se com as pessoas. Angustiava-se com sua angústia e consigo. Não se suportava, a pobre nuvenzinha. Achava-se ridícula, e se pode questionar até que ponto estava errada em suas idéias, pois o mundo - o seu mundo - lhe dizia "não sonha, nuvenzinha, que os sonhos são feitos de idéias, e idéias são feitas de açúcar, que molha e vira nada". E como insistia em depositar nos outros a sua inocente confiança! Como fora traída. Como fora ridicularizada. Como fora pisoteada, xingada e humilhada - sempre pelas costas. Odiava-se pela sua inocência; por ouvir os outros. Queria apegar-se a seus instintos e a sua sabedoria, que crescia junto com a desilusão.

E ninguém entendia a pobre nuvem. Ela pairava sobre os outros, observando e aprendendo. Baforando impacientemente, ela se surpreendia com as pessoas e suas ridículas máscaras. Surpreendia-se com a quantidade de pessoas em uma só pessoa. Irritava-se com a falsidade, a prepotência e o egoísmo - os quais lhe atribuíam, talvez tentando confundir-lhe. Jovem e cheia de vazios, a nuvem assumia pouco relutantemente os papéis mundanos que lhe davam.

Mas a nuvem sabia o que queria. Ou talvez soubesse o que não queria. A nuvem não queria ser gente. A nuvem não queria ser bicho. A nuvem não queria ser história. Nem historiador, nem contador. Não queria virar nada. Não queria ter nada. A nuvem queria fazer aquilo para que havia nascido. Ela queria completar sua função no mundo no qual fora colocada. A nuvem, meu paciente amigo, queria fazer o que as nuvens foram feitas para fazer! E ela o fez.

Hoje comecei a chover.

domingo, 31 de maio de 2009

Sin-ceridade

O que é sincero? O que é ser honesto com alguém, ou mesmo consigo? Enganar os outros quando nos enganamos também - isso é ser desonesto?
Por que estamos sempre inseguros e incertos sobre o presente e o futuro, nos abraçando ao passado como certeza e segurança? O desconhecido e o encoberto são assim tão assustadores? Pois são. E o passado é assim tão reconfortante? A mornidão do que já passou nos traz, de fato, algum conforto? Ou é uma armadilha da nossa mente e da nossa relação, nos levando a viver de nostalgia requentada?

O medo do desconhecido é uma prisão a certezas frias e, paradoxalmente, incertas. Enganamo-nos com nossas memórias. O belo é mais belo depois de um dia. O bom se torna ótimo, e o ótimo se torna perfeito. O mau se torna sustentável, o absurdo se torna tolerável - e continuamos nos enganando e nos prendendo a realidades inverdadeiras.
Um novo CD, um prato diferente, um novo amigo, um beijo mais doce e misterioso. São tomados como tentações a que se deve resistir. A certeza do momento anterior é maior que a curiosidade de agora, e é muito maior que a liberdade que julgamos possuir. Não há relação humana que não envolva supressão e desapego a liberdade. E é aí que somos desonestos. Mentirosos. Enganamo-nos e pensamos que não. Confundimo-nos e não percebemos.
Enganamos então os outros. Com nossas falsas certezas, forçamos que tenham também certezas tão firmes quanto as nossas. Exigimos que sejam nossos cúmplices, e aí somos todos tremendamente desonestos. Somos cruéis e cegos. Ou somos vítimas da desonestidade das nossas relações?