sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

cor de rosa

Entro debaixo do chuveiro.
A água fria molha meu cabelo; me arrepia e desperta para a realidade: ela foi embora.
Olho para meus pés e, logo à frente deles, o ralo. Ali, presos, fios de cabelo rosa. Tremem e sacodem nervosamente com a força da água, mas não caem ralo abaixo.

Sorrio para eles. "Intrometidos" penso, irônico. Embora tenham sido convidados e incentivados a estar ali, aquele fios compridos e coloridos são intrusos naquele mundo tão cinzento e masculino.
São, de certa forma, um lembrete de quem esteve ali. Lembram-me de que serão, eles mesmos, substituídos por outros fios - lembram-me de que ela vai voltar. E ela vai voltar, eu sei.

No entanto, mais intrometida ainda, uma sombra cruza minha mente. Um pensamento frio e infeliz: chegará o dia em que os fios de cabelo rosa estarão ali, esperando cair ralo abaixo, esperando que a água os desbote. Chegará o dia em que não serão substituídos. Chegará o dia em que a própria dona daqueles fios será apenas uma lembrança cor-de-rosa, presa no ralo do meu chuveiro...

5 comentários:

  1. bonito de uma maneira estranha

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  2. seria estranho melhor que bonito? (é outro anônimo)

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  3. dependendo de quem ache estranho, de quem ache bonito e de "estranho como?" e "bonito como?"

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  4. estranho de uma maneira que é um ralo. colocar algum lirismo em um ralo nao é facio. me meti

    o meu estranho foi otimo.


    (anonimo oficial)

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