terça-feira, 7 de dezembro de 2010

compliquei

Mais de meia hora no telefone. Ela marchava pela sala, estendendo o cabo do telefone até quase soltar da tomada. Ela já está com dor de ouvido, por apertar o fone forte contra a cabeça: do outro lado da linha, ele fala muito baixo.
- E, sabe... depois que eu te conheci, eu penso em ti todos os dias. Sério, a minha vida mudou.
"Ah é? A minha continuou a mesma" ela pensou com frieza; disse apenas:
- Ah é? Mas sei lá, tu tem que continuar com a tua vida né... Tem que sair com pessoas legais e tal.
- Só que é tu que eu quero. Eu não quero mais ninguém agora; eu quero sair contigo!
Ela agora andava pela cozinha, enrolando o fio do telefone no dedo. Olhou para o forno. Sua pizza estava pronta (e esfriando) há uns bons quinze minutos, e ela ali, presa no telefone, ouvindo aquela ladainha.

(Ele era amigo do irmão mais velho dela. Conheceram-se por acaso, um dia, quando ele havia ido com "o pessoal" buscar o irmão - o Guto. Aliás, o Guto havia adorado quando descobrira que eles tinham ficado em uma festa, umas duas semanas depois. "Minha irmã e meu melhor amigo!" ele dissera para ela, na manhã seguinte à festa. Ela esperara uma reação furiosa, mas ele simplesmente sorriu tolamente por uns cinco segundos e abraçou-a... "Sabe, eu não casei com ele nem nada" ela falara. Ele simplesmente a olhou com carinho, ignorando o que quer que ela tivesse querido dizer. "Guto, eu..." mas ele a abraçou ainda mais forte, silenciando-a.)

- Alô? Tu ainda tá aí? Alô?
- Sim, sim, sim. Fala, pode falar - ela se distraíra por um momento, contando quantos ímãs de pizzarias diferentes tinha na geladeira... - quarta? Tá, quarta tá ótimo. É. Sim, sim, eu saio do cursinho às seis...
Desligou o telefone. Tirou sua pizza do forno. Colocou-a na mesa. Ainda estava cortando-a quando começou a pensar em uma boa doença para contrair até quarta-feira.

5 comentários: