sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ao contrário

Ela tinha um rosto irritante. Proeminente, provocativo. Irritante. Na medida do apaixonante.
E havia algo mais que essa modestíssima rima no rosto dela. De fato, ele rimava apenas nas palavras.
Tinha olhos pequenos; pequenos demais para se enxergar o que tinham por trás, talvez. Dissimulados, ora acastavanham-se timidamente, ora reluziam em verdejante verde escuro. No entanto, não posso reclamar que não me tenham sido sinceros. Nas gordas lágrimas que tanto vi caírem de seus cantos; no brilho, ao me ver - brilho que já quase nem lembro mais.
Seu nariz, anguloso, era o retrato oposto de sua personalidade - fazia Lombroso sacudir-se em sua tumba. Arrebitado, meticuloso, cauteloso. Não poderia ter menos dela mesma, por mais que fosse bem no meio do próprio rosto.
A boca, pequena, raramente fechada; aliás, quando fechada, me angustiava, me amedrontava, me gelava o sangue. Seus lábios finos moviam-se com facilidade, exibindo seus dentinhos afiados e sua língua vermelha. Dentinhos carnívoros! Não poderiam ser menos verdadeiros.

O que irritava naquele rosto era que podia ser belo. Era que instigava. Que chamava. Conclamava uma ode, exigia atenção, queria meu olhar e reclamava da distância do meu próprio rosto.
Ah, pequena face enganadora. Que o brilho dos teus olhos me deixe dormir pelo menos hoje à noite.

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