segunda-feira, 14 de março de 2011

O primeiro dia frio do ano

O ônibus sacolejava, quase vazio, seguindo a tortuosa avenida com sua luz opaca. Os faróis eram ainda menos visíveis e iluminavam ainda menos graças à pesada chuva que caía. O coletivo freava, de parada em parada, abria suas portas, esvaziava-se um pouco mais, depois seguia viagem.

Sentado em um banco, ele olhava atento para fora. Carros passavam velozes, levantando a água do asfalto. Vira-latas sacudiam-se sob toldos de botecos. Pessoas corriam com jornais sobre a cabeça, fingindo acreditar que aquilo adiantava para alguma coisa... Era o que ele próprio chamava de um dia cinza.

O ônibus passou por um relógio de rua. O relógio alternou seu marcador para a temperatura. As pessoas no ônibus suspiraram e cochicharam: era o primeiro dia frio do ano. Repetindo um gesto comum nos últimos dias, ele abriu sua carteira; olhou para a foto dela. Aquele sorriso... Não, meio-sorriso; aquele meio-sorriso da foto flertava com sua saudade. Deixava-o mais triste, mais impaciente - com mais saudade.

Arrepiou-se. Era o primeiro dia frio do ano. Mas para ele, foi o dia mais frio do ano.

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