quinta-feira, 10 de março de 2011

ponto final ou ponto e vírgula? fomos uma exclamação

- Tu não precisa ir - disse de uma só vez.
Os olhos dele brilhavam, marejados de lágrimas suplicantes. Segurava firme a mão dela. Ela tinha o olhar ainda seco (quase uma fingida indiferença), mas uma lágrima fugitiva correu até sua boca e ficou presa na volta do seu lábio. Ela a secou com a outra mão, constrangida. Odiava despedidas em aeroporto mas, daquela vez, sentira a necessidade.
- Tu sabe que é o que eu sempre quis. Tu sabe que eu sonho com isso. Não é justo pra ti.
- O que não é justo pra mim? - foi a última coisa que ele disse para ela (e arrependia-se disso todas as noites depois daquela, quando pensava em frases que devia ter dito).
- Querer competir com isso tudo. - ela respondeu simplesmente - Mas se tu fosse um sonho, eu iria atrás de ti - piscou tolamente com um olho. Tinha o péssimo hábito de tentar amenizar situações não-amenizáveis. Sempre sem sucesso.
Ela puxou a mão. Ele não soltou. Ela sorriu tremulamente, contendo bravamente o choro, e escorregou seus dedos para longe dos dele. Virou-se de costas e caminhou em direção ao portão de embarque.
Descambou a soluçar antes mesmo do raio-x.

Ele ficou ali parado durante quatro ou cinco minutos, olhando para a porta por onde ela havia passado sem sequer olhar para trás. Secou os olhos, que ainda choravam pesadamente. Chorariam por mais algum tempo. Girou lentamente e cambaleou até o ônibus. Saltou do ônibus e cambalou até sua casa. Cambaleou durante meses, mas hoje anda ereto.

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