domingo, 28 de março de 2010

domingo chuvoso

Pensando de certa forma, ouvindo os acordes e as palavras corretas em uma ordem e em um ritmo convenientes, mergulhei em uma cadeia de pensamentos talvez não muito originais, nem muito impactantes - mas eu nunca disse que seria original ou impactante.


A busca por uma resposta satisfatória às questões da vida nos remete a diversos caminhos, diversas escolhas filosóficas/religiosas, que vão moldando (e sendo moldadas pelo) nosso entendimento e nossas crenças. Aliás, convém relembrar o que é acreditar, o que é crer:
Acreditar - ter fé, autorizar, dar crédito
Crer - dar fé a algo, julgar, supor, ter para si.

Interessante notar que em ambas definições - e especialmente em "crer" - não se apresenta uma certeza, um saber incontestável. Crer não é buscar uma resposta. Crer é contentar-se com uma explicação apresentada, que exprime aquilo que o sujeito espera e demonstra certa lógica funcional.
Pois se crer não está relacionado com uma busca, não está relacionado com o movimento da busca; logo, o ato de crer não impele o sujeito a descobrir mais (em especial porque muito provavelmente novas descobertas desvalidariam a crença anterior). O ponto é: acreditar em algo impede a existência um pensamento crítico, impede o surgimento de novas verdades comprováveis e leva à estagnação.
Obviamente, o termo crer (e as consequências de crer) não se aplica somente à religião. O senso comum é uma forma de crença. Uma crença na lógica da maioria, que nem sempre corresponde à sistemática das situações reais.

Baseado em crenças e em fé, a tendência é de um homem contente consigo, com suas respostas e com seu "conhecimento" (ele pensa saber a verdade). Esse homem não buscará provas, não buscará resoluções, fórmulas, teorias explicativas, experiências etc.
Insisto no ponto crítico de que crer não é saber. Crer é ter para si. É uma verdade íntima, subjetiva, de difícil (ou impossível) comprovação.

Outro ponto interessante é a fragilidade de qualquer crença. O surgimento de todas as religiões e teorias envolve um pensamento lógico. A história clássica do cristianismo (como exemplo palpável) é lógica - ela faz sentido, não se contradiz. Todas as histórias contidas nos livros e na mente dos crentes são histórias possíveis, com gente que parece de verdade, com atitudes realistas e um grande apelo popular. Ou seja, é possível encarar essas histórias como sendo verdadeiras, se deixarmos de lado a ideia de buscar fontes confiáveis, dados históricos etc.
No entanto, tão lógicas e encadeadas quanto os contos do catolicismo, são as bases do Pastafarianismo, ou crença no Montro do Espaguete Voador (http://pt.wikipedia.org/wiki/Flying_Spaghetti_Monsterism). Lendo e relendo toda a história do Monstro do Espaguete Voador (doravante chamado de FSM), é possível notar a lógica e a força embasadora do seu discurso. Se crer é ter para si, não é viável impedir que alguém tenha para si que o FSM criou o Universo, começando com uma montanha, árvores e um anão. As histórias do FSM, de Jesus e de qualquer outra religião têm o mesmo poder e a mesma força. Nenhuma delas se apresenta acima ou abaixo de outra, numa escala medindo quão verossímil é a teoria. Pois se é a fé que sustenta cada uma delas (e é apenas a fé), então a fé, como matéria subjetiva que é, não pode ser minada ou criticada - apenas respeitada.

Isso não é um manifesto antirreligioso.

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