sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Por doer, per doa

O celular vibra sobre a mesa, causando um estardalhaço e tirando o garoto de seu quase-coma, estado que tem sido comum a ele nas últimas semanas.
Ele pega o aparelho, que agora canta, desafinado, uma música estridente. Na tela, o nome dela brilha, pisca e dança para ele. Ele joga o telefone na cama, abafando o som da música com o edredom. O celular pára de tocar.
Segue lendo seu livro, volume grosso, empoeirado e carcomido de "Como vender qualquer coisa a qualquer um", a última leitura inédita de seu quarto - agradece a si mesmo por ter comprado um livro tão grande e aleatoriamente interessante, e que lhe serve tão bem agora...
O celular volta a tocar. O garoto urra de raiva. Em dois passos, chega até a cama. Puxa violentamente o edredom e o lençol, derrubando o telefone no chão. O nome dela ainda grita na tela, desesperado por ser atendido. Ele toma o celular na mão. Olha para o aparelho, para o livro, para si. Olha para o telefone de novo. Atende. A voz dela grita, desesperadamente rápido:
- Me desculpa!
Com meio sorriso no rosto, ele responde:
- Te pego aí em 20 minutos. Jantar no mexicano! - ele fala com um risinho abafado; complementa - e não esquece teu bigode!
Desliga o celular, enfia os pés em seus tênis; os fones em seus ouvidos; as mãos em seus bolsos - e sai batendo a porta, marchando ligeiro.

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